Linfogranuloma Venéreo

Sinônimos: Doença de Nicolas-Favre, Linfogranuloma Inguinal, Mula, Bubão.

O que é?

O Linfogranuloma venéreo caracteriza-se pelo aparecimento de uma lesão genital (lesão primária) que tem curta duração e que se apresenta como uma ulceração (ferida) ou como uma pápula (elevação da pele).

Esta lesão é passageira (3 a 5 dias) e frequentemente não é identificada pelos pacientes, especialmente do sexo feminino.

Após a cura desta lesão primária, em geral depois de duas a seis semanas, surge o bubão inguinal que é uma inchação dolorosa dos gânglios de uma das virilhas (70% das vezes é de um lado só). Se este bubão não for tratado adequadamente ele evolui para o rompimento expontâneo e formação de fístulas que drenam secreção purulenta.

Epidemiologia e Etiologia
As clamídias são bactérias Gram-negativas, parasitas intracelulares obrigatórios, medindo entre 0,2 e 0,5 mm, que se multiplicam por divisão binária. Trata-se de uma doença epidemiologicamente rara, predominando em populações de menor nível sócio-econômico e maior promiscuidade sexual, zonas tropicais e subtropicais. Apresenta incidência bem maior nos homens, especialmente na faixa etária de 20 a 30 anos.
Quadro Clínico

Apresenta um período de incubação que varia de 3 a 32 dias, após o que surge papulovesícula ou pequena erosão, que em geral passa despercebida, pois cicatriza em poucos dias. A localização preferencial é na genitália externa. Manifestações gerais, como febre, cefaléia e prostração, podem surgir concomitantemente ao envolvimento dos linfonodos, uma a três semanas após a lesão inicial. Manifestações raras incluem meningite, meningoencefalite, erupção cutânea e eritema nodoso. Devido a diferenças na drenagem linfática regional, a doença evolui de maneira distinta nos dois sexos. No homem, surge adenopatia inguinal subaguda, dolorosa, geralmente unilateral, recoberta por eritema. Ocorre fusão de vários gânglios, formando uma massa volumosa, conhecida como bubão ou plastrão, que sofre amolecimento (necrose) em vários pontos e leva a múltiplas fístulas, lembrando o aspecto de "bico de regador". Na mulher, a regra é a infecção localizar-se nos gânglios ilíacos profundos ou perirretais. Portanto, o diagnóstico é feito mais tardiamente. Além da adenite, podem ocorrer vulvovaginite, exocervicite, uretrite, proctite, retite, abscessos, ulcerações, fístulas, vegetações e elefantíase.

Exames Complementares
Entre os exames utilizados podemos citar:

Bacteriológico (exame direto e cultura): raramente positivo
Método ELISA : grande sensibilidade, identificação dos anticorpos contra o antígeno do grupo, e não dos diferente sorotipos.
Cultura com céluas de McCoy : é a mais utilizada, tornando-se positiva em três dias.
Sorológico (reação de fixação do complemento): é o teste mais empregado, apresentando alta sensibilidade e baixa especificidade. Positividade não implica atividade da doença.
Microimunofluorescência: método mais sensivel no diagnóstico da doença, capaz de detectar anticorpos específicos aos diferentes sorotipos.

Diagnóstico diferencial
Quando da presença de lesão inicial, devem ser considerados cancro duro, lesão traumática e herpes genital. Quando da formação de adenopatia, devem ser considerados cancro mole, tuberculose ganglionar (escrofuloderma), linfomas, doença de arranhadura do gato e paracoccidioidomicose. Em relação à fase tardia, devemos considerar a filariose, doença intestinal inflamatória, neoplasias e hidroadenite supurativa.

Tratamento
Deve ter início precoce, antes mesmo da confirmação laboratorial, a fim de minimizar eventuais sequelas. As tetraciclinas e a azitromicina são a medicação de escolha e devem ser empregadas salvo contra-indicações (gravidez, infância e intolerância ou alergia). Outros esquemas terapêuticos também são eficazes, como indicamos a seguir:

  • Tetraciclina : 500 mg de 6/6 h VO, por 2 a 4 semanas.
  • Azitromicina : 1 g VO, dose única. Repetir 10 dias após.
  • Doxiciclina : 100 mg de 12/12 h VO, por 3 a 4 semanas.
  • Sulfadiazina 500 mg, 2 comprimidos de 6/6 h VO, por 4 semanas.
  • Eritromicina : 500 mg VO, de 6/6 h,  por 2 a 4 semanas.
  • Tianfenicol : 2 cápsulas de 500 mg VO, de 8/8 h, por 2 a 4 semanas
  • Sulfametoxazol (400 mg) e Trimetoprim (80 mg) : 2 comprimidos de 12/12 h VO, por 3 a 4 semanas.

Cirurgia
Os linfonodos apresentando flutuação devem ser aspirados com agulha grossa, e nunca drenados ou excisados, pois, além de retardarem a cicatrização, estes dois últimos procedimentos podem disseminar a doença e propiciar o aparecimento de elefantíase.

Evolução

A resposta à terapêutica é ótima. É excepcional o aparecimento de carcinoma espinocelular nas lesões de elefantíase e da síndrome anorretal.

 

Fonte: www.hc.ufpr.br